segunda-feira, 15 de novembro de 2010

POR QUÊ JESUS MORREU NA CRUZ?

Por quê? Meu Deus, por quê? Pergunta-se repetidas vezes a jovem viúva, que acabou de perder o marido num acidente trágico, estúpido... Uma pergunta inevitável, difícil de encarar, humanamente sem resposta.
Mas não sem resposta para Deus!

Por que morreu Jesus? Muitos devem ter-se perguntado naquela sexta-feira sombria, na colina de Gólgota. E nós, em pleno século XXI, continuamos perguntando: Que sentido faz esta morte estúpida, vergonhosa? Uma pergunta difícil, tanto hoje como outrora. Não difícil de ser respondida, porque a resposta de Deus a esta pergunta é muito clara e já foi dada mesmo antes de acontecer a tragédia. Por que morreu Jesus? É uma pergunta difícil, não porque custamos a achar resposta, mas exatamente porque a resposta nos parece simples demais, descomplicada demais. Custa-nos ACEITAR esta resposta dada por Deus.

Por que morreu Jesus? Na carta aos Hebreus (9.27) temos uma resposta clara: Jesus morreu para pagar, aniquilar o pecado, de uma vez por todas, para nossa salvação. Sua morte não foi apenas uma morte; foi morte expiatória, para remissão dos pecados de toda humanidade. Portanto, também dos nossos pecados, dos meus e dos teus. Pois, sem perdão dos nossos pecados, oferecido por Jesus Cristo na cruz, não temos salvação.

Bem, isso até que dá para ENTENDER: que Jesus Cristo morreu para pagar, expiar os pecados da humanidade. Mas, como Jesus pode perdoar os meus pecados hoje? Eu nem mesmo me sinto culpado pela morte de Jesus, pois não fui eu quem o assassinou! - Você se sente culpado pela morte de Jesus? - É você o assassino de Jesus? Duvido que você esteja disposto a assumir a autoria do assassinato de Jesus! Eu é que não, pois nem estive lá, não participei desse horror! Consigo entender que Jesus tinha de morrer pelos pecados do mundo, afinal a lei de Deus exige isso, que haja derramamento de sangue para remissão de pecados. Sim, a lei do Rei dos céus e da terra exige isso. A exemplo do que aconteceu com um determinado rei deste mundo. Aconteceu que alguém tinha furtado jóias no palácio real. O rei emitiu um decreto: que o ladrão fosse descoberto e chicoteado. Após investigações, descobriu-se que o ladrão de jóias era o filho do rei. E agora? A lei tinha que ser cumprida. O rei, com pena do filho, a quem muito amava, pôs-se no lugar do filho e ordenou que lhe dessem as chicotadas que a lei determinava.

Também a lei de Deus tinha que ser cumprida. E Deus mesmo assim o fez. Em Jesus Cristo o próprio Deus se colocou em nosso lugar. Deus achou melhor que um morresse, para pagar os pecados de todos, do que todos morrerem.

Por que morreu Jesus? Para pagar, aniquilar os pecados do mundo todo. Bem, isto já deu para entender. Mas ainda não consigo entender como Jesus pode me perdoar os pecados hoje, a mim, eu que nem participei do assassinato dele naquela sexta-feira da Paixão original.

De fato eu não matei Jesus. Nem você. Nós não matamos Jesus. Mas o que nós temos presente hoje, e disso não dá para fugir, é o FATO HISTÓRICO de seu assassinato. Está diante de nós o horror que fizeram com Jesus naquela cruz. É preciso conhecer, atentar para a história, assimilar a história. Nós sabemos o que fizeram com Jesus naquela sexta-feira da Paixão, pois estamos avivando a nossa memória. E tudo aquilo que fizeram com Jesus no passado, hoje nos pertence DE GRAÇA, sem ao menos precisarmos assumir a autoria de seu assassinato. Eu não preciso mais assassinar Jesus e nem mesmo ficar me martirizando. Não preciso carregar o trauma de ter assassinado Jesus. Mas, para que tudo isso que hoje nos é dado DE GRAÇA, não vire graça barata, é preciso, sim, que cada um de nós assuma conscientemente a CULPA HISTÓRICA. Isto significa admitir que eu hoje pregaria Jesus na mesma cruz, que os meus compatriotas pecadores de outrora o pregaram!

Ter presente tudo o que fizeram com Jesus, assumir esta culpa histórica, é deixar que tome conta do nosso coração, não o sentimento de ser o assassino, o culpado da morte de Jesus, mas o sentimento de AMOR-RESPOSTA ao amor que Deus tem revelado por nós pecadores exatamente nessa cruz do Cristo crucificado.

De modo que não dá mesmo para ENTENDER como Jesus pode perdoar os nossos pecados hoje, mas dá para ACEITAR! E ao aceitar esta GRAÇA de Deus, vamos experimentando o descortinar-se diante de nós de uma vida em liberdade, como filhos perdoados pelo Pai, enviados a viver o perdão, o amor e a paz.

JESUSCRISTOCÊNTRISMO, UMA ÊNFASE NECESSÁRIA

Para a fé cristã, as três pessoas da Trindade são igualmente importantes. Porém, Jesus Cristo apela de modo especial à sensibilidade dos crentes por representar a sublimidade e o mistério da presença pessoal de Deus no mundo em forma humana. O Novo Testamento é um testemunho eloqüente da centralidade de Cristo para a cosmovisão cristã. De Mateus ao Apocalipse tudo gira em torno da pessoa e obra do Redentor. Duas tradições são particularmente marcantes nesse sentido: a joanina e a paulina. O Quarto Evangelho inicia com o grandioso prólogo a respeito da encarnação e atribui ao Verbo títulos, predicados e feitos extraordinários. Todavia, o apóstolo Paulo vai ainda além, pois não somente apresenta uma “cristologia elevada”, descrevendo o Filho de Deus de maneira exaltada e majestosa, mas acrescenta a isso um profundo elemento pessoal (“para mim o viver é Cristo”).

Ninguém nega que a ênfase cristocêntrica do Novo Testamento em geral e de Paulo em particular é fundamental para a identidade do cristianismo histórico. Ao longo dos séculos, muitos cristãos têm tido essa mesma preocupação, com inegáveis benefícios para a sua vida pessoal, para a igreja e para a sociedade. No entanto, por estranho que possa parecer, nem sempre o cristocentrismo tem sido uma ênfase saudável em certos grupos e movimentos, por causa das suas implicações. Muitas vezes a pessoa de Cristo pode ser enfatizada em detrimento de outros aspectos importantes da revelação bíblica. O cristocentrismo pode ser considerado sob três aspectos – espiritual, doutrinário e prático –, embora com freqüência essas dimensões não possam ser dissociadas uma da outra.

Espiritualidade
O nível mais básico em que os cristãos se defrontam com a realidade do Filho de Deus é a vida espiritual e devocional. Antes de ser um objeto de reflexão intelectual (teologia) e de imitação na vida diária (práxis), o Salvador requer uma resposta pessoal de fé, amor e obediência. Os primeiros cristãos sentiam ter uma conexão toda especial com ele: eram batizados em seu nome, confessavam o seu nome, sofriam pelo seu nome. Com isso, ele se tornava o principal ponto de referência de suas vidas e o elemento focal da sua devoção. Essa piedade centrada em Cristo se tornou característica de alguns dos períodos de maior vitalidade e autenticidade do cristianismo, encontrando a sua expressão maior em diferentes manifestações de misticismo.

Exemplos de misticismo centrado em Cristo podem ser encontrados em todas as épocas. Na igreja primitiva, houve o caso do idoso bispo Inácio de Antioquia, que, ao ser levado para a execução em Roma no início do segundo século, escreveu sete cartas que acentuam a sua profunda identificação com Cristo. “Sou o trigo de Deus, moído pelos dentes das feras para tornar-me o pão puro de Cristo”, disse ele aos romanos. Na Idade Média, místicos como Tomás à Kempis e Teresa de Jesus produziram uma belíssima literatura devocional centrada na comunhão com Cristo. Um notável exemplo protestante foi o conde alemão Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf (1700-1760), que disse certa vez: “Eu tenho uma paixão; é ele e ele somente”. Karl Barth referiu-se a esse personagem como “talvez o único cristocêntrico genuíno da era moderna”.

No entanto, uma espiritualidade cristocêntrica se torna questionável quando leva à mera contemplação, passividade ou deturpações teológicas. Em 1913, nos primeiros tempos do pentecostalismo, surgiu nos Estados Unidos o “movimento da unicidade”, com a sua ênfase no batismo somente “em nome de Jesus”. Com o passar do tempo, verificou-se que se tratava de uma rejeição da doutrina da Trindade, relembrando a antiga heresia do monarquianismo modalista. Com isso, a maior parte dos pentecostais rejeitou esse ensino pretensamente cristocêntrico.

Teologia
O cristocentrismo também pode se expressar na área do pensamento cristão, quando a pessoa e a obra de Cristo são colocadas no centro de alguns sistemas teológicos. Um bom exemplo antigo é Irineu de Lião, que viveu no final do segundo século. Em sua teologia antignóstica, o bispo da Gália articulou a influente “teoria da recapitulação”, segundo a qual não somente a morte de Cristo, mas a sua vida toda e em especial a sua encarnação têm um sentido redentor. Como o Deus encarnado, Cristo redimiu a natureza humana da corrupção do pecado, e como o segundo Adão ele reverteu os efeitos danosos da queda, encabeçando ou recapitulando uma nova humanidade restaurada. Esse cristocentrismo também se manifestou na hermenêutica dos pais da igreja em geral, com a sua exegese cristológica que buscava a Cristo em cada passo das Escrituras.

A expressão “teologia cristocêntrica” por vezes tem sido utilizada para referir-se a sistemas teológicos mais recentes segundo os quais Deus nunca se revela ao ser humano a não ser por meio do Cristo encarnado. Baseando-se numa interpretação literal de Mateus 11.27 (“Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o filho o quiser revelar”), é negada a possibilidade de qualquer revelação na natureza e, portanto, de uma teologia natural. Entre os representantes modernos dessa posição estão teólogos como Albrecht Ritschl (1822-1889), Wilhelm Herrmann (1846-1922) e Karl Barth (1886-1968). O problema com essa abordagem à primeira vista saudável é o desprezo por outros meios revelatórios, tais como a ordem criada e a própria Escritura. Para a neo-ortodoxia, a Bíblia é vista não como a revelação de Deus, mas apenas como um testemunho humano dessa revelação.

Práxis
Nenhuma expressão do cristianismo pode ser considerada realmente cristocêntrica se não produzir frutos na vida prática, em termos de testemunho e serviço. Talvez o melhor exemplo de uma genuína práxis cristocêntrica no período antigo seja o monasticismo. Os primeiros monges, conhecidos como “pais do deserto”, e aqueles que os sucederam, inspiraram-se diretamente nas palavras e na vida de Jesus. O fato de que Cristo viveu de maneira pobre e humilde, ministrando às necessidades materiais e espirituais das pessoas ao seu redor, fez com que muitos cristãos escolhessem um estilo de vida semelhante, numa imitação consciente do Mestre. Nos seus melhores momentos, o movimento monástico produziu frutos duradouros nas áreas de missões, educação e beneficência.

No final do século 19 surgiu nos Estados Unidos um movimento muito influente que foi o “evangelho social”. Esse movimento, que teve como seu maior expoente o pastor batista Walter Rauschenbusch, foi uma resposta aos graves problemas sociais existentes na época, associados ao crescimento industrial, à imigração e à urbanização.
Uma das características marcantes do cristianismo social foi a sua ênfase cristocêntrica, como ficou evidente na obra mais famosa ligada ao movimento, Em Seus Passos (1896), escrita pelo pastor congregacional Charles M. Sheldon. Essa conhecida novela mostrou o que poderia acontecer em uma comunidade dilacerada por conflitos sociais se os cristãos começassem a perguntar a cada momento: “O que faria Jesus?”.

O evangelho social e o velho liberalismo ao qual estava associado insistiam num evangelho cristocêntrico simples, que desprezava peculiaridades confessionais de culto, doutrina e forma de governo. O problema é que esse “cristianismo de Cristo” podia reduzir-se a uma simples dimensão ética, correndo o risco de ser colocado em pé de igualdade com outros sistemas religiosos e filosóficos.

Conclusão
A fé cristã tem uma contribuição singular e indispensável para o mundo. Essa contribuição, que nenhuma outra religião ou filosofia pode proporcionar, consiste na pessoa divino-humana de Jesus Cristo, o Filho de Deus. É importante que os fiéis, os pensadores e a igreja tomem a Cristo como o foco principal de suas ações e reflexões. Todavia, é necessário que isso seja feito sem que se sacrifiquem outros elementos valiosos da revelação cristã.